Foto/Reproducao
Do Meio News - A endometriose é uma condição silenciosa que atinge cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo. Mesmo tão prevalente, ainda é pouco compreendida fora dos consultórios médicos. Trata-se de uma inflamação crônica marcada pelo crescimento, em locais indevidos, de um tecido semelhante ao endométrio. É como se o organismo criasse pequenas “ilhas” de tecido onde não deveria existir.
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Esse tecido pode se instalar em regiões como ovários, trompas, bexiga e até intestino. A presença irregular provoca reações inflamatórias que desencadeiam dor e outros sintomas intensos. O problema é que muitas manifestações se confundem com cólicas menstruais comuns. Por isso, o diagnóstico costuma demorar anos.
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Essa espera estende o sofrimento e interfere diretamente na rotina das pacientes. A cada ciclo menstrual, os sintomas tendem a se intensificar, afetando o corpo e a mente. A doença não se limita ao físico. Seu impacto atravessa o emocional, o relacionamento e até a vida s€xual.
Especialistas afirmam que a compreensão sobre a endometriose ainda está distante do ideal. Isso contribui para que milhares de mulheres convivam com dor sem saber exatamente o que enfrentar. E quanto mais tarde o diagnóstico vem, maior o prejuízo ao bem-estar geral.
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O ginecologista Marcos Tcherniakovsky, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose, reforça que a doença modifica profundamente a dinâmica dos relacionamentos. A dor crônica, uma das marcas mais comuns do quadro, é capaz de moldar comportamentos e rotinas. Muitas pacientes desenvolvem receio da atividade sexual por medo de intensificar o desconforto.
Esse medo cria um ciclo: quanto mais ela evita a intimidade, mais distante se sente do parceiro ou parceira. A frustração também aparece. Há quem conviva com a sensação de não conseguir corresponder às expectativas dentro do relacionamento. Aos poucos, a vida afetiva se transforma em um território de tensão.
A consequência emocional é inevitável. A dor constante faz com que a s€xualidade deixe de ser prazerosa para se tornar uma preocupação. A relação, antes espontânea, se enche de cautelas e limites. A espontaneidade diminui, e a intimidade perde leveza.
O parceiro, por sua vez, muitas vezes não compreende a profundidade do sofrimento. Sem diagnóstico, tudo parece subjetivo, incerto. E a falta de compreensão faz com que o casal se distancie ainda mais. É um efeito dominó difícil de interromper sem informação adequada.
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A falta de diagnóstico amplifica os danos emocionais. Muitas mulheres carregam culpa por não conseguirem manter a rotina sexual esperada. Outras lidam com vergonha, achando que a dor é exagero. Esse ciclo emocional nasce de um estigma antigo: a crença de que dor menstrual é normal.
Esse pensamento impede conversas importantes dentro do relacionamento. Sem diálogo, a paciente se isola. O parceiro se sente inseguro. E a intimidade se transforma em um campo minado onde qualquer passo pode gerar conflito. Especialistas alertam que esse cenário é mais comum do que se imagina. A ausência de informação faz com que casais interpretem a dor como desinteresse. O que deveria ser acolhimento vira cobrança, e isso aumenta o sofrimento emocional.
Os conflitos então se acumulam. Distância, irritação, incompreensão — tudo fruto de uma doença ainda pouco discutida socialmente. Em casos mais extremos, o desgaste provoca rupturas e separações. Não por falta de amor, mas por falta de diagnóstico e apoio.
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A boa notícia é que, com informação e tratamento, esse ciclo pode ser quebrado. A vida afetiva volta a ganhar espaço quando a dor passa a ser compreendida, não julgada.
Profissionais reforçam que a conscientização é o primeiro passo para reduzir estigmas. Há uma variedade de opções terapêuticas que ajudam a amenizar os sintomas e devolver qualidade de vida. A escolha depende da intensidade da doença e das necessidades de cada paciente.
Tratamentos podem incluir medicamentos, ajustes no estilo de vida e até cirurgias em casos específicos. Assim como ocorre com outras condições crônicas, a abordagem precisa ser individualizada. Nada é padrão. Tudo é construído junto ao médico.
Além do cuidado físico, o suporte emocional é essencial. Terapias de casal ajudam a reconstruir pontes abaladas pelas dores e frustrações. A psicoterapia individual, por sua vez, abre espaço para que a mulher organize emoções, angústias e expectativas.
A endometriose exige um acompanhamento contínuo justamente por ser complexa. Quando a paciente se sente acolhida, compreendida e tratada de forma adequada, sua vida sexual e afetiva começa a se reequilibrar. Criar um ambiente de empatia e compreensão é parte fundamental dessa jornada. Com apoio, tratamento e informação, é possível viver com mais autonomia, menos dor e mais qualidade em todos os aspectos do relacionamento.