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Reprodução de jacarés em lagoa no RN acende alerta para órgãos ambientais

Publicado em 08/05/2025 16:39

Foto/Reproducao


Da Tribuna do Norte - As praias de Maracajaú e Genipabu, localizadas no Litoral Norte do Rio Grande do Norte, vêm registrando a presença cada vez mais frequente de jacarés nas últimas semanas.

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A aparição dos répteis tem surpreendido banhistas e preocupado autoridades e comunidades locais.

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A espécie, que costuma se reproduzir entre agosto e janeiro, já está se preparando para um novo ciclo reprodutivo. Com isso, a tendência é que a presença dos animais continue nas regiões onde encontram condições favoráveis.

Os jacarés avistados pertencem à espécie Caiman latirostris, conhecida popularmente como jacaré-de-papo-amarelo, considerada dócil e de hábitos tranquilos. “Esses répteis se adaptam a ambientes alagadiços, com vegetação densa, que propiciam a construção de ninhos. Se o local oferece segurança e alimento, eles permanecem”, explica o biólogo e aluno de doutorado no programa de pós-graduação em sistemática e evolução da UFRN, André Duarte. Ele reforça que a alimentação por humanos é um dos principais fatores que incentivam a aproximação dos animais. “Eles são generalistas, comem peixes, moluscos, caramujos e até restos de comida. Quando encontram fácil acesso ao alimento, permanecem no local e passam a se reproduzir ali. Além disso, há possibilidade de que alguns indivíduos tenham sido soltos irregularmente por pessoas que os criaram ilegalmente”, avalia.

O biólogo também explica que a presença dos répteis tem impacto ecológico relevante. “Na ausência desses predadores, doenças como a esquistossomose — transmitida por moluscos — tendem a aumentar. Eles fazem parte do equilíbrio natural. O problema ocorre quando há desequilíbrio causado pela interferência humana.”

A recomendação é não alimentar, nem tentar capturar ou interagir com esses animais. O ideal é manter distância e acionar os órgãos competentes. “Mesmo sendo dócil, um jacaré pode atacar caso se sinta ameaçado, especialmente as fêmeas com ninhos.”

As prefeituras, órgãos ambientais e forças de segurança estão mobilizados, porque, embora a espécie seja nativa e historicamente presente em áreas de mangue, rios e lagoas, o aumento expressivo no número desses animais, especialmente em Maracajaú, acende o alerta sobre o desequilíbrio ambiental.

Segundo o diretor técnico do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), Thales Dantas, a presença desses animais na região não é novidade. “Eles sempre existiram na região do Litoral Norte, como em Barra de Maxaranguape, no Rio Ceará-Mirim, e na Área de Proteção Ambiental (APA) de Jenipabu. O que mudou agora foi o crescimento desordenado da população de jacarés, que se deu por ação humana, especialmente pela alimentação irregular feita por moradores e turistas”, explica.

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Thales também avalia que o excesso de alimento fornecido de forma irregular por populares contribuiu para o aumento populacional expressivo. “Se antes eram 5 ou 10 jacarés, agora temos cerca de 50 em uma única lagoa. Os animais naturalmente se deslocam para onde há alimento fácil. É um comportamento instintivo”, afirma.

A estimativa foi feita durante uma vistoria técnica realizada por equipes do Idema, da Polícia Ambiental e da Prefeitura de Maxaranguape. Além da superpopulação, a aproximação dos jacarés de residências e pontos turísticos também preocupa.

Resgate

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Na terça-feira passada, um jacaré-de-papo-amarelo adulto, apareceu na Praia de Genipabu, próximo à foz do Rio Ceará-Mirim e foi resgatado com o auxílio do Corpo de Bombeiros Militar. O animal foi levado para a Área de Proteção de Genipabu, nas proximidades do Ecoposto, um abrigo seguro e preservado para a espécie. O Idema informou que o jacaré foi encontrado pela população, que acionou o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (CIOSP) pedindo o resgate. A equipe do órgão ambiental se deslocou até o local e acompanhou todo o processo.

Outro caso ocorreu em janeiro, quando outro foi capturado, dessa vez, em uma lagoa de captação na Zona Norte de Natal. “Essas situações geram temor na população, mas é importante destacar que não se trata de uma espécie agressiva. Nunca houve registros de ataques de jacaré-de-papo-amarelo no RN. No entanto, é preciso manter distância e respeitar o habitat dos animais”, reforça Thales.

Para lidar com o problema, o Idema formalizou um grupo de trabalho em parceria com o IBAMA, a Polícia Ambiental e a Prefeitura de Maxaranguape. Entre as ações planejadas estão a instalação de uma barreira de contenção na lagoa que abriga os cerca de 50 jacarés, sinalização para alertar sobre a proibição de alimentar os animais e campanhas de educação ambiental nas escolas e comunidades locais. “Nosso objetivo é orientar a população para que não alimente os animais e saiba como agir ao se deparar com um deles fora do habitat. O correto é acionar o Corpo de Bombeiros, a Polícia Ambiental ou o próprio Idema”, orienta.

O secretário de Meio Ambiente de Maxaranguape, Paulo de Paula, alerta que alimentar jacarés é uma infração ambiental. “Quando a gente alimenta, a gente quebra o ciclo de reprodução natural e acaba provocando superpopulação”, disse. A expectativa é de que, com a instalação das barreiras e o trabalho educativo nas comunidades, a convivência entre população e fauna local possa se equilibrar, evitando acidentes e reforçando a preservação ambiental.


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