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O que se sabe sobre o Langya, novo vírus identificado na China e qual a chace de ter uma nova pandemia
Cientistas descreveram nova espécie de vírus a partir de infecções registradas entre 2018 e 2021; patógeno faz parte de gênero de vírus altamente letais.

Publicado em 10/08/2022 15:49

Foto/Reprodução


Da BBCUm novo vírus do gênero Henipavírus, grupo conhecido por já ter causado surtos de infecções altamente letais em humanos, foi revelado por cientistas na última quinta-feira (4/8). De acordo com a equipe de pesquisadores, o vírus denominado Langya henipavirus (LayV) causou infecções em ao menos 35 pessoas na China entre 2018 e 2021.

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Os 35 casos foram detectados e analisados ao longo desses anos, mas só foram descritos agora na revista científica The New England Journal of Medicine. Destes, 26 casos foram analisados em detalhes — revelando que 100% dos pacientes tiveram febre e, em alguns casos, outros sintomas, como fadiga (54%), tosse (50%), dor de cabeça (35%), vômito (35%). Foram registradas ainda algumas anormalidades no funcionamento do fígado (em 35% dos pacientes) e rins (8%). Não há informações sobre eventuais mortes.

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De acordo com os pesquisadores, não há sinais de transmissão do LayV no contato de pessoa para pessoa. Provavelmente, a origem da infecção é animal — os cientistas dizem que há indícios de que o musaranho seja um reservatório natural do Langya, mas isso ainda precisa ser confirmado com mais estudos.

Os especialistas asseguram que a detecção do novo vírus está longe de significar uma nova pandemia.

Mas a descoberta de um vírus do gênero Henipavírus preocupa porque outros patógenos desse grupo já causaram surtos e infecções graves na Ásia e na Oceania, principalmente "primos" do LayV chamados Hendra henipavirus (HeV) e Nipah henipavirus (NiV). A infecção pelo Hendra henipavirus (HeV) é rara, mas a taxa de mortalidade chega a 57%, segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Já nos surtos do Nipah henipavirus (NiV) de que se tem notícia entre 1998 e 2018, a taxa de mortalidade variou de 40 a 70% das infecções. Ambos causam problemas respiratórios e neurológicos.

É difícil comparar esses dados com a mortalidade do coronavírus causador da atual pandemia, devido a metodologias distintas e às diferenças dos números por país e por período. Entretanto, é possível dizer que a letalidade dos vírus Hendra e Nipah se mostrou significativamente maior nos surtos que ocorreram do que o coronavírus, na atual pandemia.

 

O virologista Jansen de Araujo, professor e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Vírus Emergentes da Universidade de São Paulo (USP), destaca que, por enquanto, a detecção do vírus Langya está longe de ser prenúncio de pandemia.

"O que foi observado não caracteriza um hot spot (algo como um "foco de transmissões") como foi com o coronavírus — em que o vírus foi achado e logo começou a se espalhar em toda a região muito rápido", diz Araujo, lembrando que os pesquisadores que identificaram o Langya henipavirus monitoraram casos durante um longo período.

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"O novo vírus também não mostrou uma transmissão eficiente de pessoa para pessoa muito rápido. Mas como um vírus patogênico (que causa doença), é preciso ficar atento e monitorar sim novos casos."

Doutor em microbiologia pela USP, Araujo aponta também que a alta letalidade dos vírus Hendra e Nipah pode ter sido um freio para sua transmissibilidade.

"Os vírus que são muito letais, como o ebola, têm uma disseminação pequena, porque ele acaba matando mais rápido as pessoas do que transmitindo", explica. "Quando você tem um vírus que causa maior gravidade, a chance de espalhamento é inversa."


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