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Recuperação judicial da Latam nos EUA: o que representa para o setor e o que esperar para Gol e Azul?
Notícia não foi vista com surpresa por parte do mercado; no curto prazo, analistas veem Gol e Azul se beneficiando, mas cenário é de cautela

Publicado em 27/05/2020 10:25

Foto/Reprodução


O novo coronavírus faz mais uma vítima entre as grandes companhias do setor aéreo em meio à forte queda da demanda por conta da pandemia.

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O grupo Latam, maior da América Latina, e suas afiliadas no Chile, Peru, Colômbia, Equador e Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial (Chapter 11) nos Estados Unidos nesta terça-feira (26), em um processo que a protege de mais de cem mil credores e de uma dívida de cerca de US$ 18 bilhões. A empresa é a segunda aérea da América Latina a fazer a solicitação em meio à crise da pandemia da covid-19; apenas duas semanas atrás, a Avianca Holdings fez um pedido similar.

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A decisão de concentrar o processo nos EUA foi tomada porque o país permite que se negocie compromissos com arrendadores de aeronaves. No Brasil, por exemplo, isso não é permitido.

 

Apesar das unidades do grupo no Brasil  – além de Argentina e Paraguai – não estarem envolvidas no processo de recuperação, o anúncio da companhia aérea é monitorado de perto por aqui dadas as suas grandes operações no país, a expectativa de que aconteça um socorro às empresas do setor (em que a Latam também estaria incluída) e também com os possíveis reflexos nas outras aéreas que operam aqui, mais notoriamente Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4).

Conforme destaca o Morgan Stanley, a notícia de pedido de recuperação judicial da Latam não foi exatamente uma grande surpresa por três motivos principais: i) as implicações particularmente desafiadoras da pandemia para a empresa devido à sua alta exposição ao segmento internacional de viagens de longa duração (mais de 7 horas); ii) seu alto nível de dívida com vencimento no médio prazo e iii) reportagens recentes da imprensa indicando que o pedido estava sendo considerado.

Há 10 dias, a empresa deixou de honrar o pagamento de uma parcela de um empréstimo de US$ 1 bilhão feito em 2015 para comprar 17 aeronaves. A dívida foi estruturada nos EUA – também um dos motivos para o pedido de recuperação no país.

Nos últimos dias, a Latam demitiu funcionários e tentou levantar recursos para quitar o valor devido. Contudo, essas medidas não foram suficientes e, em meio à inadimplência, as agências de classificação de risco de crédito Fitch e S&P rebaixaram a nota da empresa na última sexta-feira.

Para os analistas do Morgan Stanley, os US$ 900 milhões em financiamento potencial de grandes acionistas aumentam as perspectivas de sobrevivência da companhia aérea. As famílias sócias da empresa, a chilena Cueto (controladora, com 21,5% de participação) e a brasileira Amaro (com 2%), e a Qatar Airways (dona de 10% da aérea) deverão conceder um empréstimo até esse montante para que a Latam continue operando enquanto está em recuperação.

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Por outro lado, embora o pedido de recuperação exclua o Brasil, o Morgan avalia que essa medida pode comprometer o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), levando em consideração que uma parte do financiamento precisaria vir do mercado.

Vale destacar que, pelo fato de ser estrangeira e não ter capital aberto na bolsa brasileira, ainda não há a confirmação de que a companhia poderá participar do pacote de ajuda ao setor aéreo encabeçado pelo BNDES e com a participação dos demais bancos privados.

Positivo para os pares ou um caso de “quem é a próxima”?

No final de abril, o Morgan já havia cortado a recomendação para os recibo de ações da companhia negociados em Nova York (ou ADRs, na sigla em inglês) para underweight (exposição abaixo da média), enquanto manteve a recomendação equalweight (exposição em linha com a média) para os pares brasileiros Gol e Azul.

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Os analistas destacaram ainda a preferência pela Gol dada a sua maior liquidez e também o perfil de operações de voos, com menor exposição internacional (13% ante 24% da Azul) no quarto trimestre de 2019), enquanto a Azul tinha maior participação de voos de longa distância, que devem demorar mais para se recuperar.

“A Gol também se beneficiaria de uma eventual redução da Latam uma vez que as duas companhias aéreas possuem um alto nível de sobreposição”, destacaram à época. A sobreposição de rotas entre Gol e Latam é de 80% e, entre Azul e Latam, é de 20%.

Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial, por sua vez, avalia que, uma vez que tem uma importância relevante no mercado internacional, há espaço importante para a Azul conquistar uma participação adicional do mercado.

Desta forma, o impacto nos pares brasileiros dependerá de como o plano de recuperação da Latam afetará os investimentos da companhia, o que seria natural em função da proteção ao interesse dos credores, avalia Netto.

O mais importante a destacar, porém, é que será necessário que as duas companhias brasileiras sigam no caminho para manter o caixa em meio ao cenário bastante complicado com a redução da demanda por conta do coronavírus. Apenas em abril, a queda no fluxo de passageiros nos principais aeroportos no Brasil foi de aproximadamente 90%, o que obrigou as companhias a tomar diversas medidas para preservar a liquidez.

Leia reportagem completa direto do InfoMoney


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